sexta-feira, 21 de maio de 2010
SAÚDE PÚBLICA
O significado de zoonoses
Em primeiro lugar gostaríamos de realçar a importância deste tema, pela sua actualidade, interesse demonstrado pelos proprietários de animais e por aspectos de cultura geral. Por definição as zoonoses são doenças transmitidas dos animais ao Homem. Vamos focar somente algumas destas doenças e relativas aos animais de companhia, nomeadamente os cães e também aos gatos. Sem gerar alarmismo, é necessário que os proprietários estejam informados sobre esta matéria, para que de uma forma conhecedora e correcta possam exercer uma profilaxia eficaz. Se por um lado a convivência com os animais tem aumentado, representando por esse facto um risco, também é verdade que os programas profilácticos são hoje em dia, mais implementados, conjuntamente com o hábito de recorrer de forma mais regular ao médico veterinário, o que faz com que a incidência das zoonoses, não seja alarmante, pelo menos em Portugal. No entanto, a população de risco tem vindo a aumentar, diagnosticando-se zoonoses em humanos imunodeprimidos, com SIDA ou sujeitos a terapêutica imunosupressora.
A Toxoplasmose
A toxoplasmose é uma doença parasitária, provocada por um protozoário, o Toxoplasma gondii, e que afecta principalmente as células sanguíneas. São hospedeiros intermediários todos os animais de sangue quente (principalmente os mamíferos) e são hospedeiros definitivos somente os gatos (domésticos e selvagens) e outros felinos (jaguar, leão, leopardo, lince, etc). As principais vias de transmissão e as formas de infecção para o Animal humano são nomeadamente:
- Através da ingestão de carne crua ou mal cozinhada precedentes de ruminantes, porcos, aves, etc…
– Através da ingestão de vegetais crus mal lavados e contaminados com fezes de gatos infectados;
- Através do contacto directo com as fezes de gatos infectados (através da areia dos parques, etc…);
- Através da ingestão de água contaminada com fezes de gatos infectados;
- Através de uma infecção congénita por via transplancentária.
O contacto directo com gatos que excretaram fezes frescas não é capaz de causar infecção. Normalmente, o gato quando defeca enterra as suas fezes no areão ou num espaço de terra. Geralmente as fezes são consistentes pelo que o gato pode estar doente e nesta situação pouco ou nenhum resíduo fecal fica aderido à região perineal e os gatos, em geral, não estão diarreicos durante o período de excreção de oocistos. Por outro lado, o gato é extremamente higiénico e nenhuma matéria fecal se encontra no pêlo de animais clinicamente normais (por conseguinte a possibilidade de transmissão para o animal humano através do contacto directo é mínima ou inexistente). Também as mordidas e os arranhões são improváveis vias de transmissão pois dificilmente se encontra o agente infeccioso na cavidade oral de gatos com infecção activa e nenhum em infecção crónica.
A adopção de comportamentos de carácter preventivo é actualmente a solução mais eficaz que permite que esta doença não seja relevante, sob ponto de vista epidemiológico. Assim, deve:
- Não ingerir carne crua ou mal cozinhada;
- Não alimentar os gatos com carne crua (aquecer a carne pelo menos a 66º C ou alimentos secos ou enlatados);
- Evitar o contacto com o solo e areia que possam estar contaminados com fezes de gatos. Trocar diariamente a caixa de areia dos gatos (o ideal seria desinfectar a caixa ou utilizar caixas descartáveis);
- Lavar as mãos após manusear os gatos e as suas fezes (utilizar luvas quando procede à limpeza do areão ou quando trabalha no jardim);
A Leishmaniose
A Leishmaniose, transmitida por um "mosquito" – Phlebotomus sp., é sem dúvida uma das parasitoses com mais impacto principalmente pela sua frequência e consequência a nível dos cães. Somente a fêmea deste mosquito é que transmite a doença, fazendo a sua alimentação sanguínea durante a noite. Ao contrário do que acontece nos cães a Leishmaniose não tem grande importância nos humanos, a não ser os imunodeprimidos. Esta doença não se transmite dos cães ao Homem, por contacto directo, mas sim pela picada do Phlebotomus. Os canídeos devem ser protegidos através de redes mosquiteiras, repelentes de insectos (coleiras à base de deltrametrinas, etc), não pernoitarem na rua, ou habitarem no microbiótopo do mosquito (locais húmidos, sombrios e com vegetação). Todas as iniciativas de uma correcta profilaxia da Leishmaniose, são meramente quase teóricas, pela dificuldade da sua implementação e somente com a produção de uma vacina eficaz, o que não aconteceu até ao momento, é que o problema da Leishmaniose canina se minimizará. Convém referir que a Leishmaniose nos cães não tem cura, embora estes possam melhorar bastante o seu estado geral, sendo as recidivas uma constante. Por vezes a eutanásia é quase uma imposição por questões clínicas e de Saúde Pública. Um cão com esta doença só tem duas hipóteses: ou é tratado ou é eutanasiado. Nunca deixar por incúria ou má fé um cão nestas condições ao abandono.
Quer engravidar?
Situações caricatas estão relacionadas com o facto de muitas mulheres engravidarem e o seu médico assistente prescrever algo como "Gatos e cães fora de casa" ou então "Festas no gato ou no cão só uma vez por semana". Obviamente não queremos generalizar, até porque acreditamos na sensibilidade e nos conhecimentos científicos de tais profissionais. No entanto, já presenciámos situações tão insólitas e em que o médico assistente revelava uma ignorância total relativamente à etiologia e epidemiologia da Toxoplasmose que resolvemos dedicar um parágrafo a este assunto, de forma a esclarecer definitivamente todas as dúvidas que possam surgir. Não obstante o texto que apresentámos no ponto 10.2, os processos de infecção da toxoplasmose nos humanos ocorrem de duas formas - adquirida e congénita. No entanto, vamos referir-nos somente à infecção congénita, que ocorre quando uma mulher fica exposta à infecção pela primeira vez durante a gravidez. Enquanto a maioria destas infecções congénitas são assintomáticas, até 10% resultam em aborto, nadomortos ou lesões graves no SNC do feto. A frequência da doença é muito maior quando a infecção é adquirida no primeiro trimestre de gestação. A prevalência da toxoplasmose é mais alta em veterinários, funcionários de matadouros e naqueles que lidam com gatos. Em Portugal, 47% da população humana é positiva para anticorpos antitoxoplasma. É curioso verificar um fenómeno que à partida pode parecer paradoxal: uma população humana com uma prevalência elevada da toxoplasmose, apresenta uma pequena percentagem de mulheres com risco de se infectarem pela primeira vez durante a idade fértil. O contrário acontece numa população quando apresenta uma baixa prevalência de toxoplasmose.
Análise da toxoplasmose
Quando uma senhora engravida ou pretende engravidar, pode e deve fazer a análise para a detecção de anticorpos. A figura que apresentamos é o resultado de uma análise para a detecção de anticorpos antitoxoplasma, feito por uma senhora que pretendia engravidar.
Não há vacinas contra este parasita, o ideal é não existir a presença de nenhuma das Ig's e por isso tem que tomar precauções durante a gravidez ou quando os valores de IgC se apresentarem altos (infecção adquirida há muito tempo) para que estes funcionem como "vacina". Estas análises devem ser repetidas após 15 a 20 dias para nova testagem das Ig's, levando a um diagnóstico da duração da infecção mais conclusiva. No entanto, o grande problema reside quando a primo-infecção foi recente.
Profilaxia
- Não contactar com carne crua;
- Ingerir carne bem cozinhada;
- Não ingerir saladas, frutas, legumes mal lavados;
- Não contactar com meios plúrios (terra, jardim, etc);
- Não efectuar a troca do areão do gato (ou uso de luvas quando manusear o caixote);
Atenção! O cão não representa qualquer risco de infecção.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário